segunda-feira, 9 de março de 2009

Disneylândia do crime


Ronaldo Lessa
(27/02/2009)

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou na semana passada a campanha “Fraternidade e Segurança Pública”, que tem como lema “a paz é fruto da Justiça”. Em Alagoas, chega em hora oportuna, quase que uma inspiração divina diante da guerra civil que vivemos. A imprensa registrou que houve uma diminuição no número de mortes durante o carnaval. Esqueceu de mencionar que o total acumulado desde o primeiro dia do ano até agora supera, em muito, o que se viu em 2008. Tivemos mais de dois mil assassinatos no ano passado, mas a escalada da violência começou em 2007, quando governador/usineiro assumiu o comando(?) do Estado. Isso motivou a sociedade a organizar um movimento pela paz que encontra eco, nesse momento, na campanha da CNBB – será que Alagoas foi, realmente, fonte de inspiração para a Igreja?



Segundo foi divulgado, a arquidiocese pretende, aqui, dar ênfase à violência nas escolas, hoje sucateadas e dominadas pelo medo. A evasão escolar é motivo de preocupação, já que perde o Estado e perde a família. O jovem que abandona a escola acaba engrossando as fileiras do tráfico de drogas. Passa a ser vítima e algoz, como bem definiu um jornalista alagoano – lamentavelmente este jornalista deixou de lado o assunto preferindo o silêncio diante da barbárie. Contudo, perante o horror que vivemos em Alagoas podemos afirmar que somos todos vítimas – recentemente, bandidos armados invadiram a casa de um oficial da Polícia Militar e fizeram um verdadeiro arrastão, o que prova que ninguém está seguro. Não adianta lavar as mãos e deixar tudo por conta de um punhado de homens da Força Nacional. São soldados e não super-herois.



O que causa espanto nisso tudo é a apatia do governo. Nenhum tipo de satisfação é dada à sociedade que atemorizada e indignada, descobre que o governador/usineiro estava bem longe daqui, nos Estados Unidos, segundo informou um jornal local, mais precisamente na Disney, passeando com Mickey, Donald e Pateta. Cruelmente, na Disneylândia do crime que se transformou Alagoas, garotos trocam os sonhos de infância por crack e balas, estas nadas doce e sempre mortais. Aqui, há outros patetas, alguns, com certeza, ocupando cargos públicos.



Ao que tudo indica, só resta aos alagoanos aguardar pela misericórdia divina, já que a paz pode ser fruto da Justiça – nem sempre a Justiça dos homens. A CNBB que se opôs à ditadura, que lutou pelos direitos humanos e sempre combateu a violência, segue fazendo o seu papel. Sabe que a vida não é feita de castelos e fadas, mas sim de trabalho árduo, perseverança e dedicação e que a busca pelo paraíso tem que começar a cada despertar. Alguém precisa dizer isso ao governador/usineiro, antes que seja tarde, antes que dragões, bruxas e duendes tomem conta de tudo.

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