
Ronaldo Lessa*
Após décadas de domínio absoluto do neoliberalismo, quando grandes corporações e empresários inescrupulosos acumularam trilhões em ganhos, a economia mundial entrou em parafuso e soltou as amarras de uma crise generalizada. A queda do PIB (Produto Interno Bruto) no ano passado indica que os efeitos dessa crise também atingiram o Brasil, mas não na proporção que alguns empresários alardeiam. Diante da perspectiva de qualquer redução de lucros, acenam com o fantasma do desemprego, como se medidas para cortar gastos se restringissem apenas ao gesto de pôr trabalhadores na rua. Trata-se de uma visão reducionista que não leva em conta o arcabouço de propostas disponíveis para enfrentar um problema macroeconômico. Seguem a cartilha neoliberal, mesmo sabendo que muito do que está escrito nessa cartilha foi o estopim para o big bang que tomou conta dos mercados ao redor do mundo.
O governo brasileiro faz sua parte na luta para conter os danos provocados pela crise. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu acelerar a queda de juros e reduziu a taxa básica em 1,5 ponto percentual, cortando a Selic de 12,75% para 11,25% ao ano. Mesmo assim, o País continua no topo do ranking das altas taxas do mundo. O governo tenta estimular o consumo e manter os empregos sem que isso implique em repique inflacionário. É uma tarefa que para obter êxito precisa do esforço conjunto de todos os setores econômicos.
Em artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, no dia 15 de fevereiro, o ministro do Trabalho e Emprego, Carlo Luppi, alertou que a redução da taxa de juros, por si só, não seria suficiente para a retomada do crescimento: “Lutamos agora para as instituições financeiras baixarem seus spreads – a diferença entre os juros cobrados pelos bancos nos empréstimos a pessoas físicas e jurídicas e as taxas pagas pelos bancos aos investidores que colocam seu dinheiro em aplicações do banco. Esta é mais uma medida para melhorar o fluxo de investimentos na economia, e retomar o aquecimento do mercado”, esclareceu Luppi.
O ministro escreve com o conhecimento de quem tem lutado para preservar as conquistas trabalhistas. Em 2008, foram criados mais de 1,4 milhão de novos empregos. Há hoje 30 milhões de trabalhadores com carteira assinada, um número recorde. Esses postos de trabalho não podem ser ameaçados diante da cobiça dos empresários, que se beneficiam das linhas de créditos públicos com juros subsidiados para prosperarem. Não querem dar a contrapartida, que seria manter os empregos. É nesse momento que os trabalhadores precisam aprofundar o grau de organização e mobilização para fiscalizar a atuação dos empregadores. Alguns, surfando na onda crise, apelam não só para demissões, como também para concordatas oportunistas que visam tão somente manter o butim.
O auge da gastança empresarial, verificado no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, quando o festival de privatizações jogou os trabalhadores às feras do capitalismo sem escrúpulos, parece estar chegando ao fim. Até os mais empedernidos teóricos capitalistas recuaram e dizem que John Maynard Keynes – economista britânico que defendia a intervenção do Estado na economia – estava certo. Alguns governos tucanos discordam. Enquanto isso, os trabalhadores sofrem, mas não podem esmorecer. As coisas mudam e a história se repete em ciclos.
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