quinta-feira, 4 de junho de 2009

Papo jovem

Nos anos sessenta fui aluno e professor do Colégio Moreira e Silva, localizado no Centro Educacional de Pesquisas Aplicadas (CEPA). A ditadura militar sufocava a sociedade, mas isso não nos impedia de nos interessarmos pelo mundo, de pensarmos no futuro, de sonharmos com uma profissão e com a possibilidade de fazer dela um instrumento para melhorar a sociedade. Eram outros tempos, contudo, o brilho no olhar, que acredito tínhamos naquela época, reencontrei agora nos jovens estudantes do mesmo velho e bom Moreira e Silva, onde estive, na semana passada, proferindo palestra sobre mercado de trabalho.

Da platéia do auditório emergiram questionamentos de jovens ávidos por saber o que o futuro lhes reserva e, principalmente, como eles próprios podem construir esse futuro. Alguns estão inscritos nos programas de qualificação profissional que o Ministério do Trabalho e Emprego desenvolve em Alagoas. Como assessor especial do ministro Carlos Lupi estou, desculpem o trocadilho, qualificado para falar sobre o assunto. Dirimi as dúvidas, apontei caminhos, mas as palestras – foram duas, uma pela manhã, outra à tarde – não se restringiram apenas ao tema em pauta.

Os estudantes queriam saber também o que estava acontecendo com o CEPA, que já foi considerado o maior complexo educacional da América Latina. Sob o aspecto físico, falta de conservação é visível; do ponto de vista pedagógico, a evasão escolar é alta. Aliás, a evasão tem sido uma marca do governo tucano que desmonta Alagoas desde 2007. Curiosamente, no complexo onde há várias escolas, a única onde o número de matrículas não caiu foi exatamente o Colégio Moreira e Silva, isso graças a um esforço da direção e dos professores que primam por manter a qualidade do ensino. Quando falta material de limpeza, fazem cota, compram o necessário e fazem eles mesmos a faxina, tudo para manter no aluno o interesse em frequentar a escola. Fiquei comovido com a dedicação daquelas pessoas, me senti aluno outra vez.

Mas o que mais me surpreendeu foi uma pergunta de um garoto notadamente preocupado com o ambiente em que estudava: “estão falando que o nosso colégio pode ser vendido, o senhor acha que isso pode acontecer?” Surpreso com seu grau de informação, indignado com a perspectiva de que tal coisa possa um dia ocorrer e, ao mesmo tempo, triste diante do olhar do estudante que me cobrava o futuro, respondi que também ouvira falar daquele absurdo – o terreno onde está localizado o CEPA é valioso e desperta a cobiça de supermercados e shopping centers – mas que estaria ao lado dele, lutando, fazendo até barricada, para impedir o que considero um crime. A platéia aprovou.

Nesses tempos onde se critica o distanciamento dos jovens das questões políticas, as palmas do auditório fizeram-me acreditar que a juventude não está distante, pelo contrário. Ela está distante do mau político, dos farsantes, dos preguiçosos e daqueles que só sabem pensar com uma calculadora nas mãos. Ela está perto do que realmente lhe diz respeito. Foi assim e sempre será.

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