domingo, 12 de julho de 2009

Ajuda humanitária

Em artigo publicado na imprensa alagoana recentemente, destacamos as incongruências do capitalismo em plena crise mundial gerada pelos próprios capitalistas: “um relatório divulgado no mês passado pela Campanha da ONU pelas Metas do Milênio apontou que a indústria financeira internacional recebeu no último ano quase dez vezes mais dinheiro público em ajuda do que todos os países pobres em meio século (não se espantem, é isso mesmo!). Estes receberam em 49 anos o equivalente a US$ 2 trilhões em doações. Só no último ano, os bancos e outras instituições financeiras ameaçadas receberam US$ 18 trilhões em ajuda pública. É algo vergonhoso. A FAO (Organização para a Agricultura e Alimentação) garante que a crise deixará um bilhão de pessoas em todo o mundo passando fome. Muitos morrerão à míngua para que os banqueiros continuem ostentando seu estilo de vida.”

Pois bem, na semana passada, ao final da reunião do G8 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Canadá e Russia), o presidente Barack Obama usou a experiência de sua família no Quênia para convencer os demais líderes do mundo rico a aumentar de US$ 15 bilhões para US$ 20 bilhões o pacote de socorro a países pobres, a maioria na África. Até então, todas as informações indicavam que o pacote ficaria em US$ 15 bilhões, segundo informações da Folha de S. Paulo. Obama afirmou que, quando seu pai viajou do Quênia aos EUA, para estudar, tanto a renda per capita como o tamanho da economia de seu país natal eram superiores aos da Coreia do Sul. "Hoje, a Coreia do Sul é um país altamente desenvolvido e relativamente rico, e o Quênia ainda está lutando contra a profunda pobreza em muitas partes do país", relatou o próprio presidente, segundo ainda a Folha.

É pouco, é verdade, face às dificuldades do continente africano, mas é significativo por demonstrar o que a ação de um líder interessado e comprometido pode fazer. Obama aproveitou e criticou os desmandos capitalistas: “ações descuidadas de uns poucos serviram de combustível para uma recessão que abrangeu o globo, e o aumento dos preços dos alimentos significa que 100 milhões de nossos cidadãos cairão em desesperada pobreza", disse numa espécie de mea culpa – o país que preside tem grande responsabilidade nessa quebradeira neoliberal. Pode ser o início de uma guinada rumo à uma maior interação entre ricos e pobres, mas há muito por ser recuperado.

É inacreditável que em pleno século XXI, quando a humanidade alcançou tal grau de avanço tecnológico, as pessoas morram de fome, algo primitivo e triste, mas essa é a lógica do capitalismo: cada um por si, ao contrário do que preconiza o socialismo, “a cada um segundo suas capacidades, a cada um segundo suas necessidades”. Podemos parecer anacrônicos, mas o capitalismo, na sua brutalidade e inconsequencia, insiste em dar exemplos de falência enquanto, por tabela, afirma os princípios solidários do socialismo.

No artigo mencionado na abertura, destacamos experiências como o Banco do Povo, de Muhhamad Yunnus, economista de Bangladesh, criador do conceito de microcrédito, e do Banco do Cidadão, em Alagoas, instituições destinadas a financiar negócios para os mais pobres e, por extensão, destinadas a combater a pobreza. É aquela velha máxima: não basta dar o peixe...

Ajuda humanitária é algo bem vindo, mas fundamental é garantir condições dignas de trabalho para todos. O Quênia precisa de dinheiro para combater a fome, mas precisa também de educação e acesso à tecnologia para caminhar com as próprias pernas, assim como muitos outros países.

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