Houve uma época na qual um punhado de homens decidiu que uma nação inteira era incompetente para escolher o que ler, ouvir, ver. A ditadura militar instituiu a censura e privou o povo brasileiro de filmes, peças de teatro e composições musicais. Mas não fez apenas isso: truncou notícias, impediu jornalistas de escreverem e omitiu da sociedade até mesmo fatos corriqueiros sob alegação de eram “subversivos”. Quem viveu naquela época sabe da dificuldade de driblar a censura e manter a resistência democrática. Na maioria das vezes, era necessário falar de uma coisa aludindo-se a outra. Quando isso não era possível, escrevia-se sob pseudônimo (Chico Buarque virou Julinho da Adelaide) ou não se escrevia (a Folha de S. Paulo publicou receitas de bolo no lugar de matérias censuradas). O sufoco, a violentação da liberdade provocou o exílio de muitos artistas e jornalistas, mas também encorajou a todos na luta pela volta da democracia que vivemos hoje.
Contudo, não se iludam: quando menos se espera, manifestações de censura aparecem, sob outras caras, mas aparecem. Há a censura econômica exercida pelos que estão no poder, tal como ocorre agora em Alagoas. O governo tucano esmera-se em manter longe da mídia assuntos que provoquem embaraços tendo como garantia as verbas de publicidade. Nem todos sucumbem, ainda bem. Alguns veículos acham que o que a população deseja saber é o fato, não a versão do fato. E a versão dos fatos está na campanha publicitária que o governo lançou para tentar conter a queda de popularidade do governo que só disse a que veio para fazer terrorismo, segundo depoimento do deputado Judson Cabral (PT-AL). O governador tucano disparou em entrevista coletiva que não garantia o pagamento do décimo terceiro; na campanha que está no ar, afirma-se que o décimo está garantido. Em quem acreditar?
O mais curioso, e que chama atenção, é a cara de pau dos tucanos. Um jornal diário divulgou que os funcionários da área de saúde puseram para correr do Hospital Geral, a equipe de produção da campanha que está no ar. A produtora levou para o HGE macas modernas, ambulâncias novinhas e até atores para representarem médicos e pacientes. O objetivo era montar uma cena que mostrasse à sociedade que a saúde ia as mil maravilhas. Os funcionários, que ganham mal e que trabalham sob condições adversas, não concordaram: acharam aquilo um insulto. Por esse episódio, dá para imaginar como foi produzido o restante da campanha.
Na época da ditadura, os militares optaram por tentar construir um país de faz de conta, impondo a censura e perseguindo e matando quem ousava pensar diferente. Alguns homens mantiveram-se firmes e denunciaram o arbítrio. Homens como o jornalista e deputado Marcio Moreira Alves, que morreu há alguns dias, D. Helder Câmara e Teotônio Vilela, o menestrel das Alagoas. Teotônio, inclusive, protagonizou uma das mais belas páginas da história do Brasil, quando empreendeu uma campanha pelas prisões do País para mostrar que ainda havia presos políticos e que eles não mereciam estar encarcerados apenas por discordar do regime. Teotônio, o pai, faz falta.
terça-feira, 14 de abril de 2009
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