sexta-feira, 3 de abril de 2009

Perversa gestão

Quando convocou a imprensa na última sexta-feira para comunicar medidas que serviriam para reduzir o impacto da crise econômica na administração pública estadual, o governador tucano, mais uma vez, investiu contra os trabalhadores. Para quem não lembra, em 15 de janeiro de 2007, o governo, logo que assumiu, baixou decreto suspendendo os reajustes salariais concedidos no ano anterior aos servidores estaduais. No dia seguinte, foi deflagrada uma paralisação geral. Uma semana depois, diante da pressão e já demonstrando patéticos sinais de insegurança, o governado revogou o decreto, mas a crise já estava instalada. Só no primeiro ano, o governo enfrentou 183 dias de greve. Os servidores, lesados pelos tucanos, que descumpriram acordos firmados, foram às ruas lutar por seus direitos.

Na época, não havia a desculpa da chamada crise internacional. Os tucanos apenas puseram em prática a cartilha neoliberal, que previa um “choque de gestão”, reduzindo brutalmente o dinheiro da saúde, da educação e dos funcionários públicos. O que se viu depois foi o caos. Os servidores ficaram com os salários congelados e o governo deixou de investir, por exemplo, em segurança pública. Em 2008, constatando o desaparelhamento da polícia, os bandidos instauraram o horror em Alagoas. Naquele ano, duas mil pessoas foram assassinadas no Estado. Neste ano, já há registro de mais de duas centenas de mortes. Na saúde, temos hospitais sucateados e médicos desmotivados ameaçando uma demissão coletiva. Sem investir, o governo faz caixa, a custa do suor e do sangue dos alagoanos.

O tal “choque de gestão” foi importado de Minas Gerais. Conselheiros políticos vieram a Alagoas ensinar a receita mineira que, em essência, visava sufocar os trabalhadores e provocar o que eles chamavam de enxugamento da máquina administrativa. O modelo neoliberal de gestão foi implantado e o Estado está, até hoje, literalmente, pagando por isso. Quando a crise internacional explodiu, provocada pelo neoliberalismo, o governo viu a chance de manter sua administração perversa: suspendeu concursos, aumentos salariais e avisa que “só Deus sabe” se o décimo terceiro vai ser pago. Os trabalhadores sofrem, mas os salários do governador e do vice, foram reajustados.

O governador é apenas um peão nesse jogo. Desprovido de fibra, apenas segue cegamente os conselhos de quem o cerca, o que acabou motivando uma crise de autoridade. Durante quase oito anos governamos Alagoas, por dois mandatos consecutivos, seguindo os ditames da lei, mas sem esquecer que o Estado foi criado para servir ao cidadão. Não há como ficar indiferente diante da fome, da miséria, das doenças. Não há como permitir que as periferias das grandes cidades fiquem desassistidas, que os trabalhadores rurais morram de sede, que o funcionário público não tenha sequer o dinheiro da passagem do ônibus que toma para ir trabalhar. Alguns discordam desse raciocínio. Como diria o poeta Mário Quintana, “eles passarão...”.

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